terça-feira, junho 02, 2009

Da Morte - Parte 2

I. João

Trabalhei com João na Unisys de 1990 até 1995. Foi um dos melhores amigos que já tive. Fomos a shows de rock, rimos até cansar, falamos as piores idiotices. Comentamos sobre as dezenas de CDs que comprávamos todos os meses e sobre os livros que não tivemos tempo livre para ler. Em fevereiro deste ano entrei em sua página de recados no orkut para deixar os parabéns pela passagem do seu aniversário e, não acreditando no que li, liguei para seu celular e fui atendido por sua irmã, que explicou que ele havia morrido em janeiro, de trombose, aos 36 anos. Disse-me também que havia tentado avisar o pessoal da Unisys, mas não havia achado o telefone de ninguém. Chorei bastante. Seguiu-se uma semana triste, na qual avisei vários outros ex-colegas de trabalho sobre o ocorrido. João me deixou com muitas saudades.

II. Thiago

Estudei Direito com Thiago em 2004 e 2005. Não era meu amigo, mas era um colega agradável e simpático. Encontrei com ele este na rua no Centro do Rio. Trabalhávamos em prédios próximos e nem sabíamos. Ele me contou que havia trancado o curso. Morreu há duas semanas em um acidente de automóvel. Descobri avisado por uma conhecida em comum quando a convidava para minha festa de aniversário, que ocorreu no último sábado.

III. Carlos

Carlos trabalhava em uma mesa a cerca de dez metros da minha. Nunca conversamos; ele era do tipo calado. Casou-se no último sábado, no dia de minha festa de aniversário. Foi para a Europa com a esposa passar a lua de mel. Estava no vôo da Air France que caiu no Oceano Atlântico. Uma colocou flores na prateleira acima de sua mesa, outro se incomodou com elas. Uma chorou, outra não sabia quem ele era. Um era tão amigo que não sabia o que dizer, outro disse que era a vontade de deus.

***

A vida é bela. Os cheiros, os toques, os sabores. Cada paisagem, cada som. A todo o momento a vida nos presenteia com a riqueza. A infinitude das estrelas, o infinitesimal dos átomos. Todo pensamento é a alegria do ser. Mas a morte sempre se faz lembrar. E quando ela ronda, eu me assombro. Fico irrequieto, desconsertado. Chego a sentir raiva dos deuses que não creio. É como o não obliterando o sim, a Lua atrevida eclipsando o Sol, a mentira suja poluindo a transparência. Meus sorrisos ficam raros por algum tempo quando a morte se faz próxima. Depois volto logo ao normal. E espero ela vir de novo.

Leia também: Da Morte

terça-feira, janeiro 20, 2009

Da igualdade entre os seres humanos

O ideal de igualdade deve ser considerado por qualquer ser humano razoável. Mas a história parece mostrar que esse ideal é constantemente violentado e está longe de ser alcançado. Provavelmente nem o será, é da natureza dos ideais. Há menos de dois séculos, sabemos, seres humanos que tinham cor da pele diferente de outros seres humanos que detinham o poder eram mercadoria e força de trabalho escrava. É importante lembrar isso. Porém aconteceu algo hoje. O homem mais poderoso do mundo passa a ser, a partir de 20 de janeiro de 2009, um negro. Disse ele, ao se tornar presidente estadunidense: "um homem cujo pai não poderia comer em um restaurante há 40 anos, hoje está aqui prestando esse juramento".

Sim, as desgraças humanas mais terríveis, a escravidão, o holocausto, a violência milenar contra as mulheres não são impossíveis de acontecerem novamente, é necessário salientar. Melhor dizendo, algumas destas existem ainda hoje, talvez travestidas com outras cores menos chamativas. Mas não venham dizer que o que ocorreu no dia de hoje não tem valor. Não estou imerso em esperanças nem vou usar um chaveirinho com o foto do novo presidente, achando que o mundo vai se revolucionar e Obama é o anti-Bush que será o redentor ianque. Afinal, eu sempre tenho em mente uma verdade que parece incontestável: nada é tão ruim que não pode ser piorado. Mas, neste caso... Pior que Bush, devemos concordar, será muito difícil.

Alguns podem achar que é ingenuidade, mas eu entendo que, apesar das desgraças que usei acima como exemplos, a humanidade tem caminhado no sentido de alcançar maior igualdade. Em outras palavras, vendo de longe, penso que as coisas melhoram. Então, eu estou algo feliz, posso dizer. O que ocorreu hoje carrega uma carga simbólica considerável. Dentre os cenários possíveis para a sucessão presidencial estadunidense, acho que o melhor aconteceu. Aliás, no início do processo, eu até achava que esse cenário dificilmente iria se tornar realidade.

Mas não é só o aspecto simbólico que pode ser interpretado como positivo. Afinal, as influências política, militar, econômica, social e cultural estadunidenses no mundo são inquestionáveis. O novo presidente prometeu um cuidado maior com o meio ambiente, o fechamento da prisão ilegal de Guatánamo, melhorias nas relações com Cuba, dentre outras medidas razoáveis. Se a crise econômica deixar, as coisas podem melhorar, eu acredito. Um fio de esperança para uma redução das desigualdades? Sim.

terça-feira, outubro 28, 2008

Da importância do voto

De fato, nossa sociedade é uma merda, nosso processo eleitoral é uma merda e - o pior - a educação do nosso povo é uma merda. A gente somos inútil, como brilhantemente sintetizou Roger. Mas, por outro lado, já disse Winston Churchill (1874-1965), o primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial: "a democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas".

E, democraticamente, tivemos que votar. De um lado, Paes; de outro, Gabeira. O primeiro é (no momento em que escrevo...) do PMDB, o partido especializado em ser eternamente governo e lotear o Estado. O segundo é do PV, que sempre merece elogios, principalmente em tempos de preocupação com o desenvolvimento sustentável. Mas, de maneira constrangedora, em coligação com o PSDB, o partido que fez o Brasil abraçar o (agora morto?) neoliberalismo.

Comparando os dois candidatos, suas histórias políticas, suas propostas, suas maneiras de conduzir a campanha e as formas escolhidas para tratar o eleitor, eu não tive dúvidas: escolhi Gabeira, mesmo com o PSDB de "bônus".

Mas não deu. Nem todos quiseram escolher. A esquerda "verdadeira", como o PCdoB, o PSOL e o PSTU, decidiu anular o voto. O que isto significa? Que tanto faz: os dois são a mesma coisa. E os servidores públicos decidiram viajar em seu feriadão. A diferença mínima entre as quantidades de votos recebidos pelos dois candidatos me faz pensar que o resultado seria outro se estes dois grupos pensassem diferente. Fico um pouco triste com isso. Mas o que importa é isso faz parte das regras. Talvez seja uma lição para quem anulou seu voto. Para reflexão, eu deixo um curto texto publicado hoje pelo jornalista Juliano Machado.

Nem bem acabou a eleição e o futuro prefeito do Rio, Eduardo Paes, começou a distribuir cargos, mostrando que sabe muito bem realizar a principal política de seu partido, o PMDB - a divisão de poder. Segundo reportagem de O Globo, a divisão de cargos na prefeitura tem características absurdas - cada um dos 13 partidos que apoiou a candidatura de Paes vai entregar uma lista de três nomes aos assessores do peemedebista e ele escolherá um deles para ser secretário. Essa forma simplória de escolher auxiliares - bem diferente dos critérios de competência, honestidade e capacidade, alardeados por Paes - foi apenas uma das promessas quebradas ontem pelo político. As outras foram na área da saúde - o primeiro secretário escolhido não foi o da pasta, e sim o da Casa Civil, Pedro Paulo (PSDB). A outra é sobre a localização das primeiras Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) da cidade - a promessa é de que ficariam na zona norte. Ontem, mudaram para a zona oeste.


quinta-feira, agosto 14, 2008

Das decisões sobre o que ler

Com o retorno das aulas de Filosofia, novos livros foram indicados pelos professores. Fui comprar um par deles ontem, na hora do almoço, em uma livraria do Centro. Coloquei os dois livros escolhidos no balcão do caixa, quando percebi que ao meu lado estava um estudante que conheço do curso de Direito de quem não lembro o nome. Assim que o reconheci, cumprimentei-o amavelmente. Ele usava um terno e estava com uma bolsa da loja. Não pude, portanto, ver seus livros, que já estavam na sacola. Olhando para os meus, ele percebeu que aquele que estava por cima era de John Rawls, autor que usualmente está nas prateleiras de Filosofia do Direito ou Filosofia Política.

– Isso nunca vai dar dinheiro a você – disse o rapaz de supetão, apontando para o livro e balançando a cabeça negativamente.

Em lugar de responder, eu ri. Na verdade, quase gargalhei, o que chamou ainda mais a atenção de uma jovem que acabara de chegar no caixa com um grosso volume nas mãos e prestava atenção na conversa. Morena, com rosto de menina e belos cabelos negros e curtos, tinha um breve sorriso que mostrava curiosidade e usava aquelas sandálias baixas de couro que se costuma encontrar nas universitárias dos cursos de ciências humanas.

– Eu não tenho tempo para ler Rawls – continuou o rapaz de terno, acrescentando mais umas duas frases sobre dinheiro e tempo, com aquele ar de quem fala aos ingênuos.

Eu ainda ria ao mesmo tempo em que lamentava ouvir aquilo e, mais para confundir, menos para responder, decidi falar algo.

– Mas você acha que tempo é dinheiro ou que dinheiro é tempo? – perguntei.

Enquanto ele respondia alguma coisa que não me importou muito, a menina morena abandonou a mera observação e também tomou parte da conversa.

– Isso depende de onde você olha – respondeu ela, talvez por não gostar de respostas pueris.

Após terminar de pagar, o rapaz já havia ido embora rapidamente, possivelmente em busca de tempo ou dinheiro, e eu expliquei brevemente à menina morena que conhecia o rapaz de terno do curso de Direito e que lá não é hábito valorizar muito a Filosofia.

– Muito limitado... – disse a garota, referindo-se ao rapaz e fazendo com as mãos aquele gesto que imita antolhos. – Deve ser chato ir contra a corrente em um curso assim.

Ela se aproximou, mostrando o livro que segurava. Era de histórias de Mafalda, a personagem dos quadrinhos argentinos.

– Você sabe de que ano é a Mafalda? – perguntou, parecendo interessada em manter a inesperada conversa.

– Não, eu não sei – disse eu, sorrindo para ela.

Lembrei-me que Nathália, como quem eu havia saído para o almoço, esperava por mim em um sofá da livraria, um pouco absorta, mas também preocupada com a demora. Eu me despedi rapidamente e voltei com Nathália para o trabalho. No caminho percebi que deveria ter conversado mais com a menina morena: não é todo dia que se encontra alguém bonita e crítica. Lamentei minha falta de atitude, pensando que talvez minha capacidade de abordar mulheres seja tão limitada quanto o discurso mostrado alguns momentos antes pelo rapaz de terno. Mas, não, claro que não! A culpa foi da Nathália e sua pressa...

sexta-feira, abril 11, 2008

Da criticidade e do seu preço

Dedicado ao João, que reclamou que isto aqui estava abandonado.

Parece-me que todos nós temos uma tendência a apreciar um ambiente estável e sem muitas mudanças. Isso é razoável, visto que há sempre dificuldade em se adaptar a novas condições. Essa tendência individual também pode ser observada na sociedade, que costuma reagir contra mudanças e críticas aos modelos estabelecidos.

Ocorre que alguns – e eu me incluo entre estes – têm uma tendência maior do que a maioria no sentido de questionar, avaliar e ter um comportamento diferente. É o que eu chamo de criticidade. Este comportamento crítico costuma incomodar ou até mesmo ofender os mais conservadores. Vejamos o exemplo do ateísmo: em outras épocas, o ateu poderia ser morto pela maioria crente que dominava os Estados. Hoje isso não mais ocorre, mas ainda há sanções sociais aplicadas ao ateu. Outros exemplos podem ser pensados. Há os que colocam o bom humor sobre os formalismos; estes são os indignos e os que devem ser desconsiderados aos olhos dos conservadores. Há os que se preocupam com o meio ambiente ou com os pobres e explorados. São os utópicos na análise conservadora e individualista. Se protestam, são baderneiros. No geral, o questionador é rotulado – no mínimo – como “do contra”.

Cada comportamento que encerra uma crítica, cada análise mais profunda, cada visão de mundo questionadora tem uma punição aplicada pela sociedade em contrapartida. Em alguns casos tal medida repressiva é meramente social e em outros chega a ser penal. É um preço a se pagar pela criticidade. Deve-se pensar quando vale a pena pagar este preço e quando não vale.

E você? Tem poucos ou muitos comportamentos críticos? E que preço está disposto a pagar por eles?

segunda-feira, novembro 12, 2007

Da memória

Hoje, quando saí do ônibus voltando do trabalho, comecei a assobiar uma música qualquer. Subitamente, fiquei bastante surpreso: era uma parte de uma música erudita que servia de abertura para um antigo programa de rádio que meu pai ouvia! Era o início do Concerto para Piano e Orquestra No. 1 de Tchaikovsky. Meu pai, hoje morto, costumava assobiar a música e provavelmente eu o ouvi fazendo isso há mais de uma década. Como e por qual razão minha memória resgatou essa música?

A memória é um dos vários mistérios ainda não bem resolvidos pela ciência. Ainda que já se tenha caminhado bastante nessa área, ainda há muito que ser descoberto. Outro dia vi, em um programa de televisão, experiências realizadas com pacientes que sofriam da síndrome da depressão pós-trauma. Eles tinham passado por situações ruins que eram constantemente revividas durante o dia ou em sonhos. Foi-lhes administrada uma droga que fazia com que as lembranças indesejadas ficassem menos intensas, de maneira que o sofrimento teve significativa redução. As pessoas lembravam das histórias, mas de uma maneira tal que parecia mais que elas não tinham sido os protagonistas daquelas histórias. Houve quem falasse, no tal programa, que isso era eticamente condenável, pois são as lembranças que nos fazem o que somos. De todo modo, devo confessar que tenho umas lembranças que mereciam ser completamente apagadas... Tenho certeza que todos vocês também têm.

Por outro lado, todos nós também temos coisas que queremos manter bem vivas em nossa memória, desde os assuntos que vão cair em uma prova até momentos importantes que dizemos inesquecíveis. No entanto, com o tempo, tudo se esvai. E, pior que isso, quando tentamos nos lembrar, nossa memória nos engana e inventa os pedaços que esquecemos, para que as coisas façam sentido. Trata-se do que a psiquiatria chama de memórias falsas.

No meio das memórias indesejadas e almejadas, talvez seja Nietzsche que esteja certo, ao defender a importância do esquecimento diante da memória. Dizia ele que esquecer é bom e que “a memória do ressentido é uma digestão que não termina”. Quem sabe ele está certo e o esquecimento é o remédio para o ressentimento? Assunto para outro dia...

segunda-feira, outubro 01, 2007

About the beautiful Irish girl

Sou um homem de princípios. Às vezes, penso até que tenho mais princípios do que seria razoável. Um destes princípios consiste na idéia de não se envolver emocionalmente com mulheres que estão apenas de passagem em minha vida. Muitos têm uma certa fascinação nos envolvimentos com pessoas estrangeiras, mas esse não é bem meu caso. Devo confessar que, praticamente em todo relacionamento que inicio, penso seriamente em termos de continuidade. Portanto, qualquer envolvimento com uma mulher que está em meu país só de passagem não é compatível esse pensamento. Afinal, eu não estaria disposto a mudar de cidade nem quero a responsabilidade de eventualmente influenciar alguém neste sentido. Assim, sempre que vi uma mulher estrangeira, controlei minha curiosidade diante do que é diferente e não dei muita atenção.

Mas, além de princípios, sou também um homem de sonhos. Um deles consiste na maior igualdade possível entre mulheres e homens. Gostaria que chegasse o dia no qual o machismo estúpido desaparecesse e que as mulheres tivessem as mesmas oportunidades que nós, homens. Que tivessem a mesma independência que nós. Que ocupassem as presidências, os tribunais e os parlamentos na mesma proporção que nós. E gostaria também que chegasse a dia no qual as mulheres pudessem assediar os homens sem que fossem consideradas putas, enquanto nós somos os garanhões quando escolhemos fazer isso.

O que fazer diante de uma linda mulher estrangeira como descrito no primeiro parágrafo, que exala felicidade e alegria, dança rock muitíssimo bem e que tem a atitude que comento no segundo parágrafo? Um pequeno dilema para mim! Resolvido tão rapidamente quanto um riff dos Ramones. E viva o rock ‘n’ roll!

sábado, julho 14, 2007

Do Cristo

Vocês devem saber que o Cristo Redentor é uma das tais novas maravilhas do mundo. Calma. Eu sei que o tema não parece muito atraente. Peço que continuem lendo, por favor.

Uns dois dias antes do fim da votação para eleger as novas maravilhas, eu fiquei surpreso ao chegar em casa e ouvir um recado muito estranho na minha secretária eletrônica. Era algo assim: "Quero votar no Cristo... para as sete maravilhas". Eu não tinha idéia de quem teria deixado o recado. Fiquei pensando qual seria o motivo daquilo. Foi quando decidi pesquisar e descobri que o telefone para votar no Cristo era 3303-0707. Este número tem apenas um dígito diferente do número de telefone da minha casa. Estava explicado. Alguém ligou errado, não prestou atenção na minha mensagem na secretária eletrônica (que dizia meu nome) e votou sem saber muito bem o que estava fazendo. Será que alguém iria fazer isso de novo?

Um dia depois, quando eram seis da manhã, o telefone tocou. Acordei e, com preguiça, fiquei na cama e não atendi. A pessoa escutou a mensagem da secretária e gritou: "Cristo!". Só isso. Fizeram de novo. Bizarro.

Foi quando percebi também que meu telefone tocava mais vezes que o normal. Quando eu atendia, não falavam coisa alguma. Quando eu não atendia, não deixavam recado. Eram também pessoas que queriam votar, percebi. Decidi mudar minha mensagem na secretária eletrônica para fazer com que as pessoas deixassem seus votos. Podia ter feito algo bem mais engraçado, mas optei por apenas deixar uma mensagem genérica, sem o meu nome. O número de pessoas que votaram aumentou, como esperado.

Finalmente, quando cheguei em casa no último dia da votação, havia 25 votos. Isso mesmo, 25. Várias mensagens gravadas tinham aquele bip no fundo, indicando que havia outra ligação em espera. Isso quer dizer que muito mais gente ligou e não deixou recado. Tinha criança votando e dando tchau; tinha gente que deixou nome completo e endereço; teve até um homem com voz de idoso que votou no "nosso senhor Jesus Cristo" e se identificou como "irmão" fulano.

Eu queria ter gravado os recados, pois pretendia publicá-los aqui para que vocês pudessem escutá-los. Tenho certeza que ririam muito. Mas estava em época de provas, muito ocupado e deixei para depois. Faltou energia elétrica e os recados foram apagados da secretária eletrônica. Uma pena. Foi a perda lastimável de um documento importante...

quarta-feira, maio 09, 2007

Dos Convidados Estranhos

Vamos supor que você tenha convidado alguém para uma visita. Imagine um chá com torradas, para dar um tom de sofisticação na história. Chega então seu convidado, um senhor solteirão, grisalho, algo recluso, com um ar intelectual. Usando vestes suntuosas e um chapéu estranho, o visitante tem um sorriso tão desconcertante que lembra um vilão de filme de ficção científica. Mas, sem dúvida, é culto e douto, com um aspecto que parece exalar sabedoria.

Entre uma torrada e outra, vários são os assuntos interessantes. Uma moradora do bairro foi recentemente estuprada, uma coisa horrível. Para piorar, a menina ficou grávida. Seu convidado insiste que ela deve ter o filho, apesar do terrível dilema que a criança representa. Ele não deve ter filhas, você pensa.

Falando em crianças, o convidado tem algumas sugestões para a educação dos seus filhos. Diz ele que o Darwinismo é apenas um sistema de crenças, apesar das comprovações científicas e arqueológicas que demonstram o contrário. Ele acha que você deve contar a seus filhos uma história sobre uma mulher saindo de uma costela ou algo assim para explicar a origem da vida humana. Deve gostar de mitologia, esse convidado.

Mais uma xícara de chá e o assunto é planejamento familiar. Defensor da moral e dos bons costumes, seu convidado rejeita o uso dos preservativos que, segundo ele, são um incentivo à promiscuidade. Até a efetividade de sua proteção em relação às doenças sexualmente transmissíveis é colocada em dúvida. Ele também explica que o casamento é indissolúvel e que o sexo deve ser usado para procriação somente. Você talvez imagine que essa opinião tenha a ver com o fato de ele ser solteirão.

Acaba o chá, acabam as torradas. E, com elas, acaba também a rápida visita. Vendo-o colocar novamente seu excêntrico chapéu, você pensa: estranho esse convidado, seu sorriso e seus dogmas tão incompatíveis com a ciência. Estranhos também são seus valores, tão incongruentes em relação ao seu conceito de felicidade e aos dias atuais. Vai entender!

quinta-feira, março 15, 2007

Do Planejamento

Dediquei um par de dias deste último Carnaval ao meu planejamento para 2007. Afinal, o ano começa depois dele, não é o que dizem? Após o uso do meu inseparável amigo Excel, produzi algumas planilhas com cálculos financeiros e o principal: uma folha que está colada na porta do meu armário com as minhas metas para 2007. Há metas financeiras, acadêmicas, relacionadas ao trabalho, à saúde e outras mais. Até coisas como a arrumação da casa - um problema crônico em minha vida - estão lá elencadas. Todas essas metas estão subordinadas a um planejamento mais amplo, que envolve quase duas décadas, indo até 2024, sendo revisado anualmente.

Tenho certeza que muitos entendem isso como exagero ou fanatismo. Talvez alguns pensem até que é tolice ou algo doentio. Afinal, nem se sabe quando se vai morrer, não é? Mas todos sonham com alguma coisa, eu acho. E o meio para transformar os sonhos exeqüíveis em realidade é o planejamento.

Sem querer tirar a beleza da existência, eu sinceramente acho que podemos e devemos aplicar alguns conteúdos da Administração de Empresas em nossas vidas. O planejamento estratégico é um desses conteúdos. Sem planejar, com o devido respeito ao samba de qualidade, é um "deixa a vida me levar" sem fim.

É por isso que sempre que alguém me procura com algum grande problema, eu busco ajudar nesse sentido: tento mostrar que o planejamento é um recurso importante para tentar controlar o futuro. Óbvio que essa tarefa é impossível por definição, mas, ao mesmo tempo, é também inegável que o futuro é fortemente dependente das ações e omissões escolhidas hoje.

Felizmente, observo que minha folha colocada na porta do armário já tem anotações relacionadas à consecução de algumas das metas que estão lá. Se vocês têm metas para 2007, espero que também estejam alcançando-as. Se não têm, considerem ter. Ou não. Afinal, existem incontáveis caminhos para a felicidade. O importante é apreciar a própria caminhada escolhida.