domingo, abril 30, 2006

Da Morte

Sou um homem de poucos medos. A violência, que tantos assusta, é-me estranha: talvez um pouco de sorte somada ao tolo pensamento que ela só se dá com os outros. O desemprego, outra preocupação comum dos brasileiros, já me era um fantasma moribundo há uma década e, agora que sou servidor público, morreu de vez. E o medo de perder pai, mãe, um irmão ou um filho não se justifica pelo simples fato de que não os tenho. Mas devo confessar a vocês que a morte me aterroriza e é definitivamente meu maior medo.

Sou ateu, como muitos de vocês devem saber. E, como ateu, não creio na existência de coisa alguma após a morte. Como disse Protágoras, "o homem é a medida de todas as coisas", sendo o referencial de tudo. Meu fim, pois, representaria o fim do mundo. Do meu, pelo menos. Quer coisa mais assustadora e incompreensível? O nada! Devo declarar a vocês que até mesmo pensar levemente nesse assunto me incomoda. Em alguns raros dias, antes de dormir, surpreendo-me pensando como seria se não acordasse. É uma sensação muito desconfortável. Apavorante, até.

Ah, que covardia! Eis que me brota uma pitada de inveja do abrigo dos dogmáticos e de sua certeza de que o fim não é o fim!

domingo, abril 23, 2006

Do Nome

Finalmente me rendi. Aqui está o blog. Não sei se será atualizado com freqüência. Provavelmente não será.

Acho que, para iniciar, cabe explicar o nome a vocês.

Há alguns meses, durante um show do
Zumbi do Mato que eu assistia, o insano Löis Lancaster (vocalista da banda) berrou: "Nunca vai ser suficiente! Nunca! Nunca!". Acho que foi isso que ele gritou. Se não foi, era parecido. Ele se referia ao rock'n'roll. Queria dizer que o rock'n'roll nunca seria suficiente, que seria preciso sempre mais. Bem, eu acho. Minha memória não é muito boa. Além disso, não é muito fácil mesmo entender o que ele quer dizer, fruto de uma inteligência ímpar, acompanhada de algumas doses de aberração. Eu achei legal. Sonoro, sabem? E verdadeiro. Nunca vai ser suficiente.

Em um momento posterior,
Ingrid, Raquel e Amanda decidiram fazer um blog em conjunto e eu resolvi imiscuir-me nos planos delas. Na verdade, além de pensarmos em marcar uma reunião a quatro que nunca aconteceu, o máximo que conseguimos foi concluir que esse seria um bom nome: "Nunca vai ser suficiente". Não conseguimos nos organizar para começar. Hoje, cada uma delas tem seu blog, atualizado com freqüência razoável. E eu continuei - até agora - sem o meu. Mas finalmente eis que o inicio. Como todo mundo que tem blog, eu espero que vocês gostem e participem. Bem, uma vez que o nome não foi usado mesmo, decidi mantê-lo. Nunca vai ser suficiente. É nome bom, não acham?

Além do rock'n'roll, há várias coisas que nunca vão ser suficientes. Uma delas é nossa capacidade de fazer perguntas sem respostas. Quando eu era criança, achava que os adultos tinham as respostas. Vocês também achavam, eu sei. Mas hoje sabemos que não. E
Kant, logo no início do prefácio da primeira edição da Crítica da Razão Pura, em 1781, teorizou sobre essa nossa capacidade de perguntar mais do que responder. Leiam: "Em certo gênero de seus conhecimentos, a razão humana tem um destino singular: sente-se importunada por questões a que não pode esquivar-se, pois elas lhe são propostas pela própria natureza da razão; mas também não pode resolvê-las, pois ultrapassam toda a capacidade da razão humana". Angustiante, não acham? Acho que esse blog vai ter muito disso. Muitas perguntas, poucas conclusões. Angústia.

A minha capacidade de inventar várias coisas sem ter tempo adequado para elas também parece que nunca vai ser suficiente. E é por isso que decidi começar a escrever esse blog.

E há outras coisas também. Mas vou parar por aqui para não cansar vocês. Estou ansioso para ler o que acharam. Ainda que nunca vai ser suficiente.